Lamento

Safra do camarão não atinge expectativas

Projeção era de que duas mil toneladas fossem capturadas, mas a disponibilidade do crustáceo na Lagoa dos Patos já é escassa

Jô Folha -

No início de fevereiro, a expectativa para a safra de camarão na Colônia Z-3 era boa. A projeção à época era de que até 31 de maio, fim do período autorizado para a pesca, fossem capturadas duas mil toneladas do crustáceo. No entanto, já no começo de abril, este cenário mudou. Fatores como as temperaturas abaixo do ideal e a grande presença de limo na lagoa prejudicaram a captura. Faltando ainda 29 dias para o fim da safra, a maioria dos pescadores já guardou suas redes.

Segundo o presidente do Sindicato de Pescadores da Z-3, Nilmar Conceição, em 2021 foram capturados em torno de 1,4 mil toneladas de camarão e, como no começo desta safra, a disponibilidade do crustáceo era grande. A estimativa era de que, no mínimo, fosse atingido o volume de duas mil toneladas este ano. Até agora, entretanto, os cerca de 800 pescadores licenciados da Z-3 pescaram 1,2 mil toneladas e a disponibilidade de camarão na Lagoa dos Patos já é escassa.

A chegada dos dias mais frios antes do esperado é apontada como um dos principais motivos causadores da safra frustrada. “Quando esfria, como nos últimos dias, o camarão vai embora. Ele sai e não tem rede que ataque, porque já está na hora dele ir para o oceano procriar. É todo um ciclo, mas isso geralmente acontecia apenas no final de maio, início de junho. Teve anos que dava para pescar até metade de junho. Agora estamos no começo de mês e já vemos sinais de que ele está saindo”, aponta Conceição.

Além disso, o segundo fator que prejudicou a pesca foi a grande presença de limo, ou “lixo”, como é chamada uma espécie de alga verde presente na lagoa. “Este ano, o limo cresceu demais e ele vem junto com o camarão, por isso tem dias que não dá para pescar de tanto que acumula nas redes. Na safra passada pescava-se todos os dias da semana. Nesta, teve semanas que não deu para colocar a rede em nenhum dia de tanto limo”.

Um dos pescadores que já estava limpando as redes para guardá-las é Alberto Ramirez. Pescando com o filho e o genro, ele conta que na maioria das semanas a captura não chegou a atingir nem três quilos de crustáceo. “Em safra boa, conseguimos em média 30 quilos por dia. Tivemos muito prejuízo, tinha muito lixo acumulado nas redes, mas deu para se defender. Vai sobrar uns troquinhos, mas muita gente vai ter só prejuízo”, conta Ramirez.

Evaristo Souza é outro pescador que relata a mesma situação. De acordo com ele, na última safra atingiu quase seis toneladas de camarão. Nesta, no entanto, não chegou a duas e meia. Apesar disso, afirma que vai continuar pescando até o fim do período permitido. “Vamos tentar até o final para ver se conseguimos garantir alguma coisa, porque até agora não deu para pagar as dívidas. Tudo aumentou, o preço do óleo diesel, gelo, tudo mais caro e o camarão continua sendo vendido pelo mesmo preço”, afirma Souza.

Mas entre os muitos pescadores insatisfeitos, há quem classifique como boa a captura deste ano. “A safra foi boa. O que maltratou muito foi o lixo, mas foi boa, sim. Para mim foi melhor que a do ano passado. Até agora eu e meu parceiro conseguimos seis toneladas. Em 2021, tínhamos conseguido sete toneladas entre três pescadores”, declara Ermeci Fidelix.

Pela região
Em São Lourenço do Sul a pesca de camarão já acabou. De acordo com o presidente do Sindicato dos Pescadores da Z-8, Ivan Kuhn, a safra foi muito passageira e, no início de abril, já não se encontrava mais o crustáceo. Na semana passada, os últimos profissionais retiraram suas redes da lagoa por causa do lodo, que estava estragando o material.

“A safra foi muito rápida. Ela começou bem nos primeiros dias de fevereiro, mas não se estendeu por muito tempo, não, apesar de ser normal para São Lourenço, porque depois o camarão acaba descendo mais a lagoa e fica mais para Pelotas e Rio Grande. Este ano foi um dos que o período acabou mais rápido, antes mesmo da Semana Santa. A expectativa que tínhamos não foi alcançada”, conta Kuhn.

Em São José do Norte, o cenário é parecido. Por lá alguns poucos pescadores ainda estão atuantes na safra. Assim como em São Lourenço do Sul, nos primeiros 15 dias de fevereiro a captura do camarão foi satisfatória, mas após esse período a maioria dos pescadores foi parando. “Ano passado teve alguns que conseguiram pescar 16 mil toneladas, mas neste ano não alcançaram nem dez. Foi uma queda de quase 50% na captura. Cerca de 70% dos pescadores tiveram apenas prejuízos. Por dia, era pescado cerca de 300 gramas de camarão. Quando o dia estava muito bom para a captura, cerca de um quilo”, lamenta o presidente do Sindicato dos Pescadores da Z-2, Irandi Rodrigues.

O pescador conta ainda que, para ele, a maior causa da safra insatisfatória foram os ventos na Lagoa dos Patos. “No mês de dezembro e janeiro, os ventos Leste e Nordeste estavam muito fortes. O que faltou para nós foi o vento do Sudoeste, conhecido como ‘rebojo’, que contribui para a entrada de correntes marítimas na lagoa e também o camarão. Sem o vento, o pescado não entra na lagoa”, completa.

03/05/2022
03/05/2022
03/05/2022
03/05/2022

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